INSTITUTO CARTOGRAFANDO SABERES CASA DE ELABORAÇÃO/ GESTÃO DE PROJETOS E EDITORA

Por Alanna Souto.Professora, pesquisadora e Dra. pelo Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento Sustentável do Trópico Úmido(PPGDSTU/NAEA/UFPA). Da direção do instituto.


APRESENTAÇÃO

A cartografando saberes trata-se de uma casa de elaboração e gestão de projetos científicos com viés de transformação social e político para os povos indígenas, comunidades tradicionais e agentes da periferia das cidades amazônicas que, também, demarcam uma luta de étnico-racial e, também, de gênero e sexualidade. Tempos que governos totalitários regridem direitos e conquistas dessas categorias. Quilombos, indígenas, povos da floresta amazônica, e/ou ainda os negros periféricos são colocados como peso e postos de forma uniformizados ou refém do Estado. E mais invisível, sofrida e alijada fica nesse cenário as mulheres negras, as mulheres indígenas, as mulheres dos povos de terreiros e ainda mais excluída quando essas mulheres étnicas-raciais se assumem no contexto de lutas e no campo das sociabilidades enquanto mulher LGBT.

A casa surge então em um momento extremamente trevoso em que passa o país tanto para esses povos tradicionais e vozes da periferia quanto para comunidade científica, seja os pesquisadores funcionários públicos, pesquisadores pós-doctor ou ainda centenas pesquisadores que estão de fora do acesso cada vez mais limitado de bolsas de pesquisas em todos níveis da qualificação científica.

É uma casa de elaboração e gestão de projetos que vem no exercício da realização, empoderamento e financiamento para um duplo saber científico, o acadêmico e o tradicional, além, de, também, gerar alguma renda para os pesquisadores e agentes étnicos-raciais pesquisadores envolvidos enquanto colaboradores-INVESTIGADORES(AS) ativos(a) da casa.

Para além disso o Instituto Cartografando Saberes, também, tem a funcionalidade de editora para publicação de livros e outros tipos de publicações, a exemplos de relatórios, roteiros ou boletins que dizem respeito à resultados de pesquisas dos projetos científicos e sociais em desenvolvimento pela casa.

Cartografar saberes para quê?

A Cartografando Saberes tem o entendimento que cartografar, mapear saberes entra no campo de disputa dos territórios no âmbito do espaço do poder público em que excluem saberes tradicionais e os agentes da periferia, seja nas urbes ou nas áreas rurais ou ainda nas universidades no que confere sua participação enquanto sujeitos próprios para pensar, articular e gerir seus processos históricos e projetos junto com os órgãos públicos, Ongs, fundações internacionais em prol do benefício, desenvolvimento social e sustentável de suas comunidades. Nesse sentido comunidades e pesquisadores agem como parceiros na luta por direitos, na reescrita da história do espaço social histórico desses povos, considerando suas cosmologias e práticas de saberes no tempo e no espaço. Revisitando e "descolonizando" fontes coloniais de cunho espacial em diálogo com a memória coletiva. Logo seguindo na luta pela legitimação de seus direitos intelectuais e territoriais.

Nesta direção cartografar saberes, também, pela construção de epistemologias que ande de mãos dadas com os povos indígenas e comunidades tradicionais reconhecendo as divindades e seres da natureza enquanto sujeitos que possuem direitos, territórios e história, bem como suas práticas medicinais tradicionais milenares. E nesse sentido superando o antropocentrismo, seguindo em direção do que já se tem construído e desenvolvido em alguns territórios étnicos de povos e comunidades em que seus próprios agentes fundaram seus "museus vivos"[1] compreendendo sua percepção de território e identidades que se forma fortemente com a "presencialidade do passado" sendo ressignificado e recolocado nesses centros de referências em que a história e território de cada povo étnico movimenta-se e se posiciona de forma dinâmica e plural em seus artefatos, vestígios arqueológicos, além de fontes escritas e visuais que reservam nesses "novos" museus.

A perspectiva descolonial demandada pela Cartografando Saberes tem como entendimento a direção e o engajamento dos estudos pós-coloniais no sentido de repensar os processos civilizatórios europeus que atravessaram e subjugaram os povos nativos das Américas, Áfricas e Ásias periféricas. Os pós-colonialistas, em especial, o grupo indiano dos Estudos Subalternos e pós-colonialistas africanos, a lembrar Fanon e Aimé Césaire, que retomam o colonialismo que engendrou o racismo dos tempos de colonização desses continentes e que se perpetuou no pós libertação política dessas nações, arregimentou e criou divisões de trabalho baseado em uma ideia de "raça", "vozes amarelas", "vozes negras" ou "vermelhas(indígenas)" calaram-se , abafada e diminuídas, os "condenados da terra". A Europa então o berço espelho da civilização, formatou culturas milenares, ciências e engenharias antigas ocultadas ou colocadas no campo de uma ciência primitiva ou folclórica, perseguiu línguas maternas nativas, formatou a linguagem, a medicina dos povos indígenas e comunidades tradicionais alijadas nos estudos folclóricos ou no campo de uma medicina popular. Mas os povos nunca se calaram, o silêncio se fazia algumas vezes como respostas a tirania enquanto se organizavam e mantinham vivas suas formas e práticas identitárias de seus povos ancestrais. Não de forma cristalizada. Mas sim dinâmica e móvel. A ancestralidade e o passado são recolocados e ressignificados pelas comunidades étnicas-raciais que cada vez mais emergem e reivindicam seus direitos, territórios, suas ciências e saberes.

"Ajuntávamo-nos, só para nós, os astutos: deixemos que se esgoelem, isso os alivia, cão que ladra não morde". Sartre no prefácio "Os condenados da Terra" de Fanon referindo-se à imponência das elites às expressões dos povos nativos, ribeirinhos, indígenas e negros quando desajustados da "Imensa Europa", afinal latino-americanos quando reflexo do referido "velho mundo" [nem mais velho o é] e seus tempos são premiados. Negros e indígenas "greco-latinos" com suas medalhas de reconhecimento, lutando por educação de qualidade... a europeia. O quanto há de contradição no progresso e modernidade do colonialismo interno. Há real democracia étnico-racial na democracia do capitalismo ou socialismo?

Em tempos de fascismos, ecos machistas no escuro entre esquerda ou direita volver, podem então os intelectuais/agentes sociais-étnicos subalternos falar? Podem os desajustados da ordem institucional e "condenados da terra" reescrever sua própria História?

A prosseguir.

Alanna Souto Cardoso. Direção Geral do Instituto Cartografando Saberes.

Doutora em Desenvolvimento Socioambiental pelo PPGDSTU-NAEA/UFPA.

Atualmente Pós-doutora pelo Programa de Cartografia Social e Política da Amazônia. Departamento de Ciência Sociais- UEMA.

Linhas de ações científicas e sociais:

  • A nova Cartografia histórica, terras tradicionalmente ocupados e a memória oral coletiva.

Pesquisadora responsável: Dra. Alanna Souto

Chamo de "Nova" Cartografia histórica uma direção /e uma leitura descolonizadora de investigar os mapas do passado, tendo em vista que a cartografia histórica convencional somente atenta-se para os estudos dos mapas do ponto de vista das representações do Espaço. Ou seja, do espaço em concebimento a partir do ordenamento dos agentes hegemônicos seja do Estado ou das elites econômicas. E muito embora utilize dos conhecimentos dos nativos desde da época da invasão ibérica. E tais agentes étnicos pouco são visibilizados no que confere as práticas espaciais indígenas que exerciam nos percursos desses mapas oficiais do período colonial. E quando representados nesses mapas ainda colocados a partir de ideologias maniqueístas da época: "O bom selvagem, o mal civilizado; o mal civilizado/ o bom selvagem". Ou ainda como localizar os roteiros e percursos dos quilombolas, dos mocambos históricos? Como reconstituir uma cartografia da resistência dos quilombos do passado? Levando em consideração que a cartografia histórica convencional, também, não leva em conta as práticas espaciais quilombolas no âmbito dos estudos de mapas do passado. Sendo assim outra questão que surge: o que sabemos dos espaços que viviam as civilizações africanas escravizadas que aqui chegaram? E de que forma se recriaram e se (re) territorializaram nesses novos espaços coloniais ou ainda nos quilombos?

Não à toa, Iris Kantor, coordenadora da Biblioteca digital de Cartografia histórica da USP, argumenta a respeito das informações dos lugares, especialmente, à toponímia dos rios, as territorialidades indígenas que fizeram e/ou ainda fazem parte do território luso-americano que estavam sendo cartografados e demarcados pela Coroa Ibérica em meados do século XVIII, seja pelos mapas coloniais, seja pelos "mapas textuais" que engendram um fenômeno peculiar de "apropriação cultural dessas territorialidades nativas de conhecimento e tradução de um saber em outro, de afinação de repertórios para construção de um denominador comum" (KANTOR, 2009, p. 12-13). É justamente nesse intercurso cultural que se encontra aquela voz indígena abafada e cristalizada nos mapas oficiais para a consolidação de fronteiras dos territórios coloniais em formação, tornando a territorialidade homogênea e única em suas representações do espaço. Logo, como bem incentiva Kantor (2009), cabe aos pesquisadores o papel privilegiado de investigar e retirar o véu do ausente nestas memórias espaciais herdadas.

É nessa direção que se procede a leitura descolonizadora da Cartografia histórica no sentido de ampliar o olhar a respeito do que se entende por mapa e não se limitando apenas nos mapas coloniais propriamente ditos, seja as figuras ou os croquis ou ainda os mapas com os elementos cartográficos que já marcam o perfil da cartografia de meados do século XVIII em diante. Sendo assim para localizar os percursos indígenas na formação do espaço amazônico colonial ou ainda as "nações" indígenas ou os percursos e formações dos espaços quilombolas do passado é necessário ampliar as fontes de cunho espacial. E adentrar nos "mapa textuais" que podem ser lidos por meio das seguintes fontes de caráter espacial: mapas de habitantes/ censos coloniais; diários de viagem; roteiros corográficos; notícias de viagens, diário de viagens de visitas pastorais; cartas de sesmarias. E dessa documentação fazer a leitura do espaço de mediação cultural e elaborar mapas que envolve percursos, rios e práticas espaciais dos povos indígenas e de quilombos que são reflexos do espaço vivido que os sujeitos viventes em encontros com esses viajantes, sejam religiosos ou naturalistas ou agentes do Estado relatam em seus transcursos de viagem. Muito embora tais informações seja a partir dos agentes coloniais que relatam tais "mapas textuais", e os mapas geoprocessados por meio do acesso a esses não se tratam da mesma posição dos mapas oficiais coloniais que se articulam em outro momento do espaço que é o espaço concebido, de ordenamento e de representações do estado, delimitações de fronteiras geo-políticas e administrativa que deixam de fora tais agentes étnicos-raciais.

Não podemos esquecer, com bem lembra Benedict Anderson (1993) em Comunidades Imaginadas, o censo, os museus e os mapas foram instrumentos efetivos para legitimar, homogeneizar e controlar os domínios coloniais dos Estados ibéricos. Nesse sentido a retomada do espaço (social) histórico por essa "nova" cartografia histórica vai se colocar problematizando a totalidade do domínio da América Ibérica para depois adentrar em territórios vividos e territorialidades específicos dos povos indígenas e quilombolas dessas situações históricas do passado.

O diálogo dessa "nova" Cartografia histórica com os povos indígenas, quilombos e outras comunidades tradicionais da contemporaneidade parte da própria necessidade desses povos para com a retomada de antigos territórios e/ou ainda com a emergência étnica de diversas comunidades caboclas reivindicando suas identidades étnicas ou ainda comunidades negras rurais retomando suas identidades quilombolas e (re)localizando em suas "memórias largas"[2] que não raro alcançam tempos dos Engenhos ou ainda das revoluções nativas anti coloniais, a exemplo da Cabanagem tão importante e revisitada pela memória coletiva das comunidades indígenas do rio Tapajós. E nesse sentido a reconstrução e elaboração de mapas dos espaços vividos de "terras tradicionalmente ocupadas" em múltiplos contextos demarcando toda uma pluralidade étnica faz-se importante, sobretudo, por meio entendimento e o mapeamento das experiências históricas desses povos delimitando seus territórios e territorialidades específicas do passado por meio de continuidades e rupturas que não necessariamente corresponderá como tal passado é recolocado por essas comunidades étnicas do presente.

A memória coletiva dos povos, a tradição oral e a "nova" cartografia social da Amazônia em cruzamento com a "nova" cartografia histórica ajudam assim a construir uma consciência histórica dessas categorias étnicas, aproximando assim da perspectiva classe de Thompson (1981,1987) quando direciona para uma compreensão da construção de uma consciência de experiência histórica da classe trabalhadora para que assim se possa constituir legitimamente uma consciência de suas identidades étnicas e ancestral, de forma, viva e dinâmica a partir de suas diversidades de vivências coletivas e defesa de seus territórios em diversos contextos.

2) Práticas espaciais de saberes tradicionais dos povos e comunidades de matriz africana. Diálogos entre dois mundos- Áfricas, Afro-Amazônia e interculturalidades.

Pesquisadora responsável: Dra. Selma Brito

No âmbito de luta dos povos e comunidades de matriz africana para manutenção, preservação e realização das suas práticas e de seus saberes tradicionais milenares essa linha busca propor a construção de um mapeamento histórico atualizado dos saberes a partir de seus múltiplos contextos. Demonstrando como a etnicidade desses povos se coloca acima, ou melhor, transcende a identidade afro-religiosa e passam se organizar enquanto comunidade tradicional de matriz africana. Nesse sentido entrando nas disputas por suas territorialidades e seus territórios no âmbito da cidade que tem outros demarcadores de limites e processos civilizatórios.

E tal mapeamento urge por uma atualização histórica no sentido de buscar os acervos africanos e tradições orais das Áfricas referente aos povos africanos em diásporas para o Atlântico no período do tráfico negreiro. Sendo assim há necessidade do diálogo com pesquisadores africanos, fontes locais e com representantes de comunidades tradicionais africanas a respeito dos ancestrais africanos em processos diaspóricos para Amazônia. Intercambiar pesquisadores e representantes dessas comunidades. Não para reproduzir uma África originária ou mítica, mas para reconstruir percursos, encontros e desencontros entre esses dois mundos e das Áfricas que se recriaram com os povos amazônicos. Rupturas, permanências e resistências.

3) Ciências e saberes indígenas, mapas das resistências e outras narrativas dos povos indígenas.

Pesquisadora responsável: Dra. Alanna Souto

A linha Ciência e Saberes indígenas tem um foco de demarcação territorial e territorialidades específicas direcionando um mapeamento dos povos indígenas por meio da tradição oral que se localiza não somente por meio da história oral, mas também pela música, a arte, a narrativas literárias, medicina e espiritualidade. Nesse sentido organizar junto com as lideranças indígenas de cada povo indígena ( Mura, Tembé, Kambeba, Kaiapó, Arapium, dentre outros) a elaboração dos seus mapas de saberes e da história territorial de suas nações indígenas ancestrais em que pese o alcance da memória oral coletiva nessa reconstrução com objetivo assim de reescrever e retomar espaço (social) histórico desses povos pelo viés, voz e olhar de seus próprios agentes, sejas dos povos indígenas específicos ou ainda dos indígenas tido como "índios misturados" que tem se movimentado em uma "viagem da volta" nas terras tradicionalmente ocupadas em que vivem. Descolonizando assim o "fazer-se" histórico de uma historiografia institucional dos povos originários ainda vistos, de forma, cristalizada em tempos fixos por historiografias colonialista e branca em que o passado indígena não se faz em diálogo com uma atualização histórica dos povos do presente ou muito menos considera a história de Abya Yala (Américas) pelo olhar, mapas e narrativas dos diversos agentes dos povos indígenas.

A história das Américas deveria começar assim pelos passados dos povos que já os habitavam. Mas ainda "hoje" é muito mais demarcada com o período da invasão ibérica e do convívio com o cristianismo. E longe das referências às divindades dos povos nativos que demarcam, inclusive, territorialmente a história dessas terras nas vivências e práticas espaciais por essas cosmologias que quando referidas pela história ocidental como folclórica e suas curas colocadas no ramo da medicina popular. Primitiva. A reescrita da história se faz por meio desse giro descolonial do "fazer-se" histórico. Nesse sentido o que tem demandando sobre a história e a cartografia histórica dos povos indígenas se faz uma questão de direitos seja para a revitalização étnica de seus territórios, seja pelas reordenamentos de suas memórias espaciais específicas e de rompimento com uma ciência histórica ocidental que caminha mais perto do cristianismo do que da história dos povos ameríndios.

4) Ciência e saberes quilombolas, territórios ancestrais e desenvolvimento social.

Pesquisadora responsável:

A linha Ciência e Saberes quilombolas engaja-se no fazer científico e orgânico de fortalecimento do patrimônio cultural e na criação de estratégias para o desenvolvimento social e sustentável dessas comunidades a partir do investimento em diversas frentes seja o da memória, história e identidades por meio das construções dos "museus vivos"; economia solidária; o feminismo comunitário; a defesa do território ancestral e a educação quilombola. Nesse sentido demarcando mapas de saberes e de desenvolvimento para essas comunidades.

5) Direitos humanos, povos indígenas e comunidades tradicionais: mapeando territórios de direitos e redes de comunicação.

Pesquisadora responsável: Rotokwi Gavião

A linha Direitos humanos é força transversal que dialogará com todas as outras linhas demandando projetos a respeito da história de luta e direitos desses povos, sendo assim investigações que partem de questões dos direitos por meio do viés de entendimento de território, territorialidades e direitos intelectuais do ponto de vista dos povos indígenas e comunidades tradicionais. E nesse sentido mapear e demarcar uma cartografia de direitos desses povos. Os direitos de educação escolar específica. A escola indígena e escola quilombola. O direito à comunicação. Um mapeamento das formas de comunicação nessas comunidades e de que forma os direitos humanos se articula em conjunto com agentes sociais e órgãos públicos para garantia do acesso à comunicação.

6) Mapas das periferias entre trilhas sonoras visuais e poéticas de espaços da resistência: artes, cultura e cidadania.

Pesquisadora responsável: profa. Msc. Kélem Ferro

As periferias de uma cidade é um complexo de vozes que demarca não somente um espaço à margem dos centros principais da cidade, mas também uma forma de se fazer (r) existir diante de um progresso e modernidade que pouco lhes alcança. É na periferia que, também, localiza-se demarcadores diversos de resistência nelas estão também: as tradições dos povos de terreiro, as artes do povo preto, o hip hop, o funk, traços e vivências diaspóricas africanas em múltiplos contextos periféricos, as benzedeiras, as parteiras, a cultura popular do boi, as interfaces culturais indígenas e caboclas em periferias, a exemplo do bairro do Guamá, Terra firme e Icoaraci. Como estão organizados? Quais seus demarcadores étnicos-raciais territoriais e de gênero e sexualidade? E de que forma se engajam na luta em defesa de seus territórios.

7) Mapeando a filosofia afro-diaspórica, gênero e território raciais na Amazônia.

Pesquisadora/agente responsável: MSc. em filosofia Lívia Noranha.

Cartografar saberes, também, envolve investigar a formação do pensamento na Amazônia referente as elaborações de suas epistemologias nativas, sobretudo, repensar o espaço filosófico Amazônico que ainda se faz espelho da produção filosófica europeia e pouquíssimo dialoga com a tradição filosófica africana de modo avaliar a própria composição filosófica das Áfricas que, também, constituíram os diversos modos de conhecimentos na Amazônia , assim como os povos indígena que aqui já habitavam. Formando assim um espaço afro diaspórico que compartilhou relações com diversos povos nativos. Tal incipiência desse campo de investigação alimenta cada vez mais o epistemicídio do pensamento afro-amazônico, resultante do intenso colonialismo interno. O que se torna ainda mais grave a ausência quando se trata de corpos femininos afro descendentes em que essas mulheres em diversos contextos da África do passado é uma referência matriz, de liderança e matriarcado, inclusive, na gestão política. É nesse sentido que o campo de estudos subalternos comprometidos com o exercício de descolonizar o saber científico filosófico, a memória histórica e a retomada da ancestralidade demarcando essa consciência filosófica africana na Amazônia que precisa libertar o seu corpo, a mente, o território filosófico racial e o gênero das invisibilidades, opressão e das amarras ocidentais.

8) Mapas dos povos tradicionais e vozes da periferia para a Educação: Resultados das linhas de ações científicas e sociais para o Ensino e pesquisa.

Coord. Alanna Souto e a profa. Lília Melo em culminância com as pesquisadoras do coletivo Selo Nossas Vozes e a Cartografando saberes. Além de pesquisadoras parceiras de universidades e representantes de escolas das comunidades.

REFERÊNCIAL BIBLIOGRÁFIA

ALMEIDA, Alfredo Wagner B. & OLIVEIRA, Murana Arenillas. Museus indígenas e quilombolas:

Manaus: UEA Edições/ PNCSA, 2017.

ANDERSON, Benedict. Comunidades imaginadas. Tradução Denise Bottmann. São Paulo: Cia. das Letras, 2008.

CESAIRE, Aimér. Discurso sobre o Colonialismo. Livraria Sá da Costa. Lisboa, 1977.

CUSICANQUI, Silva Rivera. Oprimidos, pero nos vencidos. Luchas del campesinado aymara y qhechwa 1900-1980. La Mirada Selvage. 2010.

FANON. Condenados Terras. Rio de Janeiro. Ed. Civilização Brasileira. 1968.

KANTOR, Iris. Cartografia e diplomacia: usos geopolíticos da informação toponímica (1750-1850). Anais do Museu Paulista, São Paulo, v. 17, n. 2, jul./dez. 2009.

SOUTO, Alanna.Descolonizando a cartografia histórica amazônica: representações, fronteiras étnicas e processos de territorialização na Capitania do Pará, século XVIII. Tese de doutorado do PPGDSTU/UFPA. 2018. Disponível: https://www.etnolinguistica.org/tese:cardoso-2018

THOMPSON, E.P. A Formação da classe operária inglesa. Trad. Rio de Janeiro, Paz e Terra, 1987, volume 1, capitulo 1.

THOMPSON, E.P. A miséria da teoria ou um planetário de erros. Uma crítica ao pensamento de Althusser. Trad. Rio de Janeiro, Zahar editores, 1981, p 180 a 201.


[1] "Museus vivos" trata-se de um mapeamento e construção pelos agentes étnicos, povos indígenas, quilombolas, dentre outras comunidades tradicionais, em parceria com os pesquisadores do PNCSA por meio de um projeto intitulado "Projeto de Ciências e Saberes" que buscou não somente mapear, investigar e auxiliar na criação de "pequenos museus "pelos agentes étnicos envolvidos, mas também referendar esses museus criados, independente do reconhecimento e apoio do Estado, demonstrando assim que na atualidade cada vez mais instrumentalizam-se e se fortalecem. Sendo assim tais "Centros de Ciências e Saberes Tradicionais" colocam-se em um campo de resistência aos desmandos do Estado e sua política museal que historicamente dirige-se ás comunidades indígenas, quilombolas e outros povos tradicionais enquanto seres exóticos e tratam sua cultura e medicina no âmbito folclórico e do "popular", tornando-se assim em diversas situações históricas reféns dos agentes do Estado ou de uma academia que ainda os colocam em tempos fixos, e longe de pensar seus processos históricos.

[2] De modo similar a presencialidade do passado em que Silvia Cusicanqui localiza na perspectiva entre "memória larga, memória curta" captura a trajetória de lutas anticoloniais do campesinato andino dos anos de 1970 e 1980 em que a memória coletiva alcança o contexto de resistência de Tupac Katari no espaço colonial bolivariano. Logo, a memória oral histórica de luta desses povos não é algo fixo no presente e deve ser feita articulado com as fontes coloniais do passado. Nessa direção que o tempo da Tradição, também, vai no encontro da presencialidade desse passado. Além, de demarcar outros sujeitos que não seja somente o indíviduo, mas as divindades e os seres da natureza de seus territórios ancestrais.