"Nova" Cartografia Histórica.


A nova Cartografia histórica, terras tradicionais ocupadas e a memória oral coletiva. Gestao : profa. Dra. Alanna Souto Cardoso e professora convidada.


Os projetos de pesquisa que fazem parte da linha de frente 1 do Grupo de pesquisa Cartografia das cartografias dos povos da Amazônia: História oral, territórios tradicionais e os mapas das "(r)existências". (IPPCS), coordenação do GP Alanna Souto Cardoso. E estão associados há um eixo central de um estudo maior vinculado ao Instituto Cartografando Saberes. 

Por uma cartografia histórica da resistência dos povos indígenas e comunidades tradicionais da Amazônia: Patrimônio cultural, (sócio)bioecionomia e formações educacionais comunitárias. 

Projeto 1:  A 'nova' Cartografia Histórica dos Engenhos e a "Presencialidade" do passado nas comunidades tradicionais da Amazônia- Demarcando políticas públicas, a educação patrimonial comunitária e a Historia oral do Instituto de Pesquisa Projeto Cartografando Saberes (IPPCS) - ESTÁGIO PÓS DOUTORAL ESTRATÉGICO DO PPGG-UEPA- Supervisão da coordenação geral do PPGG-UEPA.


Projeto 2: MAPAS DE PRODUÇÃO trata-se das ações formativas em gestão, planejamento e captação de recursos referente aplicação dos planos de trabalho do Projeto 2 do IPPCS: Da antiga Belém Mairi aos povos da Amazônia – Patrimônio histórico cultural, território, educação popular patrimonial e sócio bioeconomia.

. Cadastrado na plataforma do Instituto Cartografando Saberes na linha de frente 1. Pesquisadora/ autora/ orientação / membro responsável do projeto 2 linha de frente 1: Profa.Dra. Alanna Souto Cardoso .

Do projeto 2 - Pesquisadoras pós-graduandas e graduandxs de universidades cadastradxs.

As lideranças indígenas/ pesquisadoras, mestrandas e estudante da graduação das universidades associadas cadastradas no projeto com RG e CPF. As membras fundadoras com assinaturas.

Liderança quilombola e acadêmico Douglas Sena ; e acadêmicos quilombolas cadastrados .

Liderança quilombola do Marajó das florestas e geógrafa: Jully Vanessa Miranda/ Tartarugueiro.

Em planejamento interno.

Chamo de "Nova" Cartografia histórica uma direção /e uma leitura descolonizadora de investigar os mapas do passado, tendo em vista que a cartografia histórica convencional somente atenta-se para os estudos dos mapas do ponto de vista das representações do Espaço. Ou seja, do espaço em concebimento a partir do ordenamento dos agentes hegemônicos seja do Estado ou das elites econômicas. E muito embora utilize dos conhecimentos dos nativos desde da época da invasão ibérica tais agentes étnicos pouco são visibilizados no que confere as práticas espaciais indígenas que exerciam nos percursos desses mapas oficiais do período colonial. E quando representados nesses mapas ainda colocados a partir de ideologias maniqueístas da época: "O bom selvagem, o mal civilizado; o mal civilizado/ o bom selvagem". Ou ainda como localizar os roteiros e percursos dos quilombolas, dos mocambos históricos? Como reconstituir uma cartografia da resistência dos quilombos do passado? Levando em consideração que a cartografia histórica convencional, também, não leva em conta as práticas espaciais quilombolas no âmbito dos estudos de mapas do passado. Sendo assim outra questão que surge: o que sabemos dos espaços que viviam as civilizações africanas escravizadas que aqui chegaram? E de que forma se recriaram e se (re) territorializaram nesses novos espaços coloniais ou ainda nos quilombos?

É nessa direção que se procede a leitura descolonizadora da Cartografia histórica no sentido de ampliar o olhar a respeito do que se entende por mapa e não se limitando apenas nos mapas coloniais propriamente ditos, seja as figuras ou os croquis ou ainda os mapas com elementos cartográficos que já marcam o perfil da cartografia de meados do século XVIII em diante. Sendo assim para localizar os percursos indígenas na formação do espaço amazônico colonial ou ainda as "nações" indígenas ou os percursos e formações dos espaços quilombolas do passado é necessário ampliar as fontes de cunho espacial. E adentrar na percepção de "mapa textual" que podem ser lidos por meio das seguintes fontes de carácter espacial: mapas de habitantes/ censos coloniais; diários de viagem; roteiros corográficos; notícias de viagens, diário de viagens de visitas pastorais; cartas de sesmarias. E dessa documentação fazer a leitura do espaço de mediação cultural e elaborar mapas que envolve percursos, rios e práticas espaciais dos povos indígenas e de quilombos que são reflexos do espaço vivido que os sujeitos viventes em encontros com esses viajantes, sejam religiosos ou naturalistas ou agentes do Estado relatam em seus transcursos de viagem. Muito embora tais informações seja a partir dos agentes coloniais que relatam tais "mapas textuais", e os mapas geoprocessados por meio do acesso a esses não se tratam da mesma posição dos mapas oficiais coloniais que se articulam em outro momento do espaço que é o espaço concebido, de ordenamento e de representações do estado, delimitações de fronteiras geo-políticas e administrativa que deixam de fora tais agentes étnicos-raciais.

Não podemos esquecer, como bem lembra Benedict Anderson (1993) em Comunidades Imaginadas, o censo, os museus e os mapas foram instrumentos efetivos para legitimar, homogeneizar e controlar os domínios coloniais dos Estados ibéricos. Nesse sentido a retomada do espaço (social) histórico por essa "nova" cartografia histórica vai se colocar problematizando a totalidade do domínio da América Ibérica para depois adentrar em territórios vividos e territorialidades específicos dos povos indígenas e quilombolas dessas situações históricas do passado.

O diálogo dessa "nova" Cartografia histórica com os povos indígenas, quilombos e outras comunidades tradicionais da contemporaneidade parte da própria necessidade desses povos para com a retomada de antigos territórios e/ou ainda com a emergência étnica de diversas comunidades caboclas reivindicando suas identidades étnicas ou ainda comunidades negras rurais retomando suas identidades quilombolas e (re)localizando em suas "memórias largas"[1] que não raro alcançam tempos dos Engenhos ou ainda das revoluções nativas anti coloniais, a exemplo da Cabanagem tão importante e revisitada pela memória coletiva das comunidades indígenas do rio Tapajós. E nesse sentido a reconstrução e elaboração de mapas dos espaços vividos de "terras tradicionalmente ocupadas" em múltiplos contextos demarcando toda uma pluralidade étnica faz-se importante, sobretudo, por meio entendimento e o mapeamento das experiências históricas desses povos delimitando seus territórios e territorialidades específicas do passado por meio de continuidades e rupturas que não necessariamente corresponderá com o tal passado que é recolocado por essas comunidades étnicas no presente.

A memória coletiva dos povos, a tradição oral e a "nova" cartografia social da Amazônia em cruzamento com a "nova" cartografia histórica ajudam assim a construir uma consciência histórica dessas classes trabalhadoras étnicas, aproximando assim da perspectiva classe de Thompson (1981,1987) quando direciona para uma compreensão da construção de uma consciência de experiência histórica para que assim se possa constituir legitimamente uma consciência de suas identidades étnicas e ancestral, de forma, viva e dinâmica a partir de suas diversidades de vivências coletivas e defesa de seus territórios em diversos contextos.