Cartografia das cartografias ribeirinhas, identidades étnico raciais e suas "encruzilhadas" das territorialidades

Pesquisadora/membro responsável: Profa.Dra. Alanna Souto Cardoso.


A fábula das três raças, não negando a existência dos três matizes na formação da sociedade brasileira, vai ser duramente excludente para com as sociedades ribeirinhas e campesinas resultantes de processos históricos de colonização na Amazônia por uma simples razão, como já bem observou Nugent , essa região não foi o lócus dos debates nacionais sobre raça e etnicidade, assim lembra esse autor referente a obra de cunho historiográfico "Espetáculo das raças" de Lilia Schwarcz que faz todo um levantamento convincente de como se formou a ideologia e as teses racialistas pelas instituições em meados do século XIX e da retomada da mestiçagem pelo Estado Novo, contudo a Amazônia só aparece quando se refere a criação do Museu Goeldi, o segundo museu brasileiro criado. E somente mais recentemente que passaram pautar o racismo à questão indígena no contexto dos debates raciais no cenário nacional, contudo as sociedades caboclas/ ribeirinhas ainda é um nódulo na garganta do Estado e dos grupos hegemônicos que os colocam como uma categorização incerta (caboclos, mestiços,), tal qual a categoria residual "pardo" que muitas vezes os enquadram. Nessa direção para sair da fábula do Estado e relocalizar essas vozes invisibilizadas pelo Estado que vivem pouquíssima acessibilidade dos serviços públicos, saúde sanitária e muitas em contexto de racismo ambiental, vivendo em terras tradicionalmente ocupadas que, também, demarcam fronteiras com as comunidades quilombolas e com muitos territórios indígenas é necessário que tais agentes se manifestem em suas coletividades quanto suas origens, encontros e desencontros, longe da visão colonialista interna, em suas cartografias de memórias (curtas e largas) no âmbito de suas práticas espaciais do passado e do presente referente as suas vivências resistentes em seus diversos contextos, não reduzindo a uma questão meramente identitária ou intercultural, mas no campo de resistência ao racismo estrutural que vivem esses ribeirinhos enquanto povos da Amazônia juntamente com os territórios indígenas e quilombolas em suas zonas de contato, logo pautando políticas públicas que os alcance . E que tenham direitos de serem o que são em suas relações raciais históricas em defesa das terras em que ocupam ou de retomarem qualquer identidade que suas memórias desejem emergir, longe da subordinação do vértice branco que nunca foi critério para definição de suas identidades e (r)existências, a não ser para os subordinarem em seus grandes projetos econômicos. Nesse sentido, como bem observou, Edir Augusto, de todas essas "encruzilhadas" das territorialidades que convivem as sociedades ribeirinhas, indubitavelmente, é a tensão com o Estado que demarca "tempo-espaço" diferente, o "tempo-espaço" homogêneo do Estado (nacional/ estatal) versus o "tempo-espaço" heterogêneo das comunidades tradicionais. Afinal, a destruição da comunidade é fundamental para o capitalismo. E resistir é uma história de permanência para os "condenados da terra".